As eleições legislativas argentinas deste domingo (26) ocorrerem em um contexto de forte instabilidade econômica e política, após dois anos de desempenho sólido das ações do país, mas marcados neste ano por incertezas sobre a continuidade das políticas fiscais e cambiais.
O Itaú BBA destaca que os investidores estão desconfiados, o que tem se refletido nos ativos. Além disso, no mês passado, a venda frenética que castigou os mercados argentinos após a derrota do partido do presidente Javier Milei nas urnas também deixou investidores globais em alerta para outro possível baque após as eleições legislativas deste domingo.
O banco destaca que a Argentina reduziu os gastos fiscais em 10,5% do produto interno bruto (PIB) ao longo de alguns anos, uma conquista reconhecida globalmente como um sucesso.
“No entanto, o desafio está em transitar de um modelo baseado em políticas fiscais e monetárias expansivas para um focado em investimento, cujo retorno leva tempo para se materializar, enquanto os cortes de gastos têm efeito imediato”, explicam analistas.
Política fiscal
Para o BBA, a política fiscal permanece como um ponto central: cortes realizados nos últimos anos reduziram gastos em 10,5% do PIB, e o governo busca consolidar avanços em tributação e redução de despesas.
No entanto, alguns impostos distorcivos, como sobre faturamento, transações financeiras e exportações, ainda geram tensão entre os interesses de setores dependentes de transferências governamentais e a necessidade de manter o equilíbrio fiscal.
Câmbio
Outro ponto crítico é a política cambial futura, segundo o BBA. O governo aposta em aumentar produtividade e conter gastos em vez de recorrer à depreciação do peso argentino, enquanto o mercado sugere maior flexibilidade cambial.
“Com reservas limitadas e dependência de linhas de apoio do Tesouro dos EUA, a evolução da taxa de câmbio real será determinante para os juros, o consumo e o apetite de investidores”, comentam analistas.
Cenário eleitoral complica ainda mais a equação
A fragmentação política argentina significa que coalizões pró-mercado ou alinhadas ao governo podem alcançar uma minoria de bloqueio no Congresso com cerca de 30 a 35% dos votos, garantindo capacidade de veto sobre legislações estratégicas. No entanto, aprovar reformas exigirá alianças mais amplas, especialmente com governadores e no Senado, tornando a distribuição de votos por província crucial.
Para o mercado de ações, o índice Merval já recuou 45% em relação ao pico do ano passado, refletindo o clima de cautela. Analistas apontam que um resultado eleitoral favorável às forças pró-mercado, aliado à preservação do superávit fiscal, poderia impulsionar recuperação significativa, com maior demanda por pesos argentinos, juros mais baixos e possível retomada do acesso ao mercado financeiro.
Por outro lado, uma eleição desfavorável ao presidente argentino poderia agravar a pressão sobre reservas, câmbio e confiança dos investidores, levando o Merval a níveis ainda mais baixos, entre 500 e 700 pontos.
Assim, avalia o BBA, as eleições do dia 26 são muito mais do que um evento político, representando um teste para a confiança do mercado argentino, impactando desde políticas fiscais e cambiais até o desempenho do setor de consumo e a trajetória das ações no curto e médio prazo.
No geral, gestores de recursos e estrategistas afirmam que, se a coalizão La Libertad Avanza conseguir um terço das cadeiras no Congresso, os mercados podem reagir positivamente. Mas, mesmo com essa meta baixa, ressalta a Bloomberg, — antes da derrota do mês passado, as expectativas eram maiores — empresas como Morgan Stanley e UBS alertam para riscos significativos: um desempenho mais fraco provavelmente será visto como uma ameaça à agenda de reformas econômicas de Milei e ao fluxo de recursos de resgate que os EUA injetaram para fortalecer a moeda do país.
A questão central será se Milei conseguirá manter apoio suficiente no Legislativo para vetar tentativas da oposição peronista de reverter sua agenda. Os investidores também estarão atentos a sinais de que o resultado pode levá-lo a adotar uma postura mais conciliatória com seus adversários políticos.
“O verdadeiro teste está na estratégia pós-eleitoral de Milei,” escreveu o economista do JPMorgan Chase & Co., Diego Pereira, em nota aos clientes. Ele afirmou que uma narrativa de “derrota nacional” provavelmente prevalecerá se Milei obtiver cerca de 31% a 32% dos votos e sofrer perdas na maioria das províncias.
“Ter um ‘terço de veto’ no Congresso não substitui as alianças necessárias para aprovar reformas macroeconômicas críticas; uma mudança da retórica combativa para a governança pragmática é essencial,” disse ele.
(com Bloomberg)
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